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Orpheu



Revista de que apenas saíram dois números, em Lisboa, em março e junho de 1915, mas de notável significado na História da Literatura Portuguesa por marcar a introdução do Modernismo. Orpheu 1, correspondente ao primeiro trimestre desse ano, é dirigida por Luís de Montalvor e Ronald de Carvalho e apresenta, além duma «Introdução» de Luís de Montalvor que lhe imprime um cunho simbolista-decadente, poemas «Para os Indícios de Oiro» de Mário de Sá-Carneiro, «Poemas» de Ronald de Carvalho, « O Marinheiro», «drama estático em um quadro» de Fernando Pessoa, «Treze sonetos» de Alfredo Pedro Guisado, «Frisos», contos, pelo desenhador Almada-Negreiros, e dois poemas de Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa, intitulados «Opiário» e «Ode Triunfal». Este número provocou escândalo e troça, como, aliás, os seus responsáveis desejavam: os jornais apodaram-nos de mistificadores ou alienados. Orpheu 2, já sob a direção de Pessoa e Sá-Carneiro, corresponde aos meses de abril, maio e junho. Inclui ilustrações de Santa-Rita Pintor, futurista, poemas de Ângelo de Lima (um autêntico louco, internado no Hospital Miguel Bombarda), «Poemas sem Suporte» - «Elegia» e «Manucure» de Mário de Sá-Carneiro, «Poemas» de Eduardo Guimarães, «Atelier (novela vertígica)» de Raul Leal, «Poemas» de Violante de Cysneiros (pseudónimo de Armando Cortes-Rodrigues), «Ode Marítima» de Álvaro de campos, «Narciso», poema de Luís de Montalvor, «Chuva Oblíqua», poemas intersecionistas de Fernando Pessoa (v. Intersecionismo).

Apesar de este número ter provocado reação semelhante à suscitada pelo primeiro, a empresa deu prejuízo financeiro, e por tal motivo não pôde prosseguir. Todavia, Pessoa não deixou de pensar em publicar mais dois números. Em setembro de 1916 anunciava a Cortes-Rodriguse que a saída de Orpheu 3 estava para breve e que deveria inserir dois poemas ingleses dele, Pessoa, versos de Camilo Pessanha e de Sá-Carneiro, «A Cena do Ódio» de Almada, poemas de Álvaro de Campos, etc. De facto, o n.º 3 estava, no ano seguinte, em grande parte, se não totalmente, impresso, mas nunca veio a lume. As folhas impressas compreendem: «Poemas de Paris» de Sá -Carneiro, «Após o Rapto» de Albino de Meneses, «Gládio» e «Além-Deus», poemas de F. Pessoa, «Por esse crepúsculo - A morte dum fauno» por Augusto Ferreira Gomes, «A Cena do Ódio» de Almada-Negreiros, «Olhos» por D. Tomás de Almeida, «Para além d' outro Oceano», notas de C. Pacheco (outro heterónimo de F. Pessoa) «à memória de Alberto Caeiro», e «Névoa», composição de Castelo de Morais. De Orpheu 3 já foram publicados os poemas de Pessoa (graças a Casais Monteiro, Lisboa, 1953), os «Poemas de Paris», incluídos em Indícios de Oiro de M. de Sá-Carneiro, e «A Cena do Ódio», reproduzida em Líricas Portuguesas, 3.ª série (seleção de Jorge de Sena, Lisboa, 1958). - F. Pessoa chegou a escrever, em inglês, notas para uma apresentação da literatura do Orpheu, dando já como aparecido o projetado n.º 3, ano e meio após o n.º 1. Tomaz Kim deu a conhecer esse texto, que traduziu («O Orpheu e a Literatura Portuguesa»), em sep. de Tricórnio. Aí Pessoa considerava a revista «a soma e a síntese de todos os movimentos literários modernos».

Coelho, Jacinto do Prado, DICIONÁRIO DE LITERATURA, 3.ª edição, 3.º volume, Porto, Figueirinhas, 1979



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