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Sonetos de Florbela Espanca

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Rosas

Rosa! És a flor mais bela e mais gentil

Entre as flores que a Natureza encerra;

Bendito sejas tu, ó mês d'Abril

Que de rosas inundas toda a terra!

Brancas, vermelhas ou da cor sombria

Do desespero e do pesar mais fundo,

Sois símbolos d'amor e d'alegria

Vós sois a obra-prima deste mundo!

Ao ver-vos tão bonitas, tão mimosas

Esqueço a minha dor, minha saudade

Pra só vos contemplar, ó orgulhosas.

Eu abençoo então a Natureza,

E curvo-me ante vós com humildade

Ó rainhas da graça e da beleza!

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VAIDADE

Sonho que sou a Poetisa eleita,

Aquela que diz tudo e tudo sabe,

Que tem a inspiração pura e perfeita,

Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade

Para encher todo o mundo! E que deleita

Mesmo aqueles que morrem de saudade!

Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo...

Aquela de saber vasto e profundo,

Aos pés de quem a terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,

E quando mais no alto ando voando,

Acordo do meu sonho... E não sou nada!

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SER POETA

Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior

Do que os homens! Morder como quem beija!

É ser mendigo e dar como quem seja

Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos os esplendor

E não saber sequer que se deseja!

É ter cá dentro um astro que flameja,

É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!

Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...

É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...

É seres alma e sangue e vida em mim

E dizê-lo cantando a toda a gente!

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