Em carta de Bristol de Outubro de
Outubro de 1887(1)
ao seu editor, escreve Eça de Queiroz: «Je
n' ai pas eu le temps de vous l' écrire et
j' éspère que vous n' avez pas encore
commencé à faire brocher le Ier
volume. D' abord je voudrai voir une
épreuve de la capa - surtout parce
que le roman a un sous-titre qui doit
paraître dans la coverture.» Ainda
mais duas cartas(2)
de Dezembro de 1887 e de Abril de 1888; na
última destas cartas, de novo insiste: «Il
ne faut pas oblier que le roman a un
sous-titre - episódios da vida
romântica.»
[...] Vemos nesta carta de 1888 a
importância que Eça de Queiroz dá ao
subtítulo «episódios da vida romântica».
[...] O padre Amaro e Amélia, Luísa
e o primo Basílio são produtos laboratoriais
gerados num curto prazo diante do leitor.
Personagens de um meio pequeno e inculto, as
suas reacções são primárias, directamente
consequentes dos ingredientes manipulados.
Em Carlos da Maia, uma educação exemplar não
o liberta do peso da hereditariedade social.
Personagens de um grande mundo, os netos de
Afonso da Maia, vivificados e alimentados
pela «grande civilização europeia», caem,
apesar de tudo, ali numa rua do Chiado. Eles
são vítimas da avó Maia, beata e histérica,
que condiciona a natureza e a educação de
Pedro. O pai de Carlos é a imagem romântica
do homem fraco, que se perde no casamento
com Maria Monforte diante da impotente
intervenção de seu pai, Afonso da Maia,
homem digno, representante de todas as
virtudes. Eça acentua mesmo a parecença de
Carlos com sua mãe, Maria Monforte.
Helena Cidade Moura, Os Maias,
Nota Final, Edição «Livros do Brasil»,
Lisboa, sem data.
(1)
Publicada por Marcelo Caetano in Panorama,
Junho de 1960.
(2) Idem.