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Cantigas de Amigo de D. Dinis


Comentário *

às

Cantigas de Amigo de D. Dinis

I


Esta e as duas cantigas seguintes pertencem ao número das chamadas pastorelas.


3 x (6+1): Versos graves de sete sílabas, com exceção do refrão, que é agudo e de três; a rima está disposta por esta ordem: ababab+c, isto é, rimam entre si o 1.º, 3.º e 5.º ou os ímpares por um lado e o 2.º, 4.º e 6.º ou os pares por outro, ficando o refrão isolado.


*

Versos 1 e 2: se queixaua... estando o mesmo é que s' estava queixando, como diz a 2.ª estrofe, ou estava a queixar-se, modo de dizer perifrástico, sobre o qual pode consultar-se Epiphanio Dias, Syntaxe Historica Portuguesa, § 324a. Note-se que o advérbio muito modifica queixando.
Versos 6 e 7
: A expressão par Deus é uma espécie de juramento, no qual se invoca a Deus como testemunha de que se diz verdade. O vocábulo amor toma-se aqui, como nos versos 14, 15 e 21, em sentido concreto, em vez da pessoa que é objeto do amor e assim a frase soa do mesmo modo que se a pastora dissesse ao namorado: maldita a hora em que gostei de ti.
Verso 9: come... coita ou como costuma queixar-se a mulher que sofre grande desgosto amoroso.
Versos 10 e 11: e que... doita ou por outras palavras: mas que, apesar de se queixar ou lamentar tanto, não estava acostumada a fazê-lo por motivo d' amores, sendo portanto esta a primeira vez que isso lhe acontecia. Esta oração relativa equivale a um adjetivo, ligado pela conjunção e à expressão con gram coita ou mui coitada.
Verso 12: O pron. en refere-se talvez antes a coita do que ao expresso nos dois versos precedentes.
Verso 13: tu... coita ou tu só és a causa do meu sofrer.
Verso 15: Ordem direta: Amores davam (ou causavam)-lhi coitas. Como tantas vezes, o pl. amores está pelo singular, prática que nesta e outras palavras ascende já ao latim: cf. Madvig, Gram. Lat., § 50, Obs. 3.
Verso 16: que... morte, oração relativa, cujo antecedente é coitas, de significado idêntico ao adjetivo mortais.
Verso 19: mal ti venha é expressão imprecativa, sinónima d' estoutras: mal hajas, maldito sejas. A contrária trocava naturalmente mal por bem e ocorre também nalgumas cantigas.

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II


4 x (8) sem refrão e portanto cantiga de maestria; os versos são graves e de sete sílabas, contando-se por duas o final -ão, que se encontra na segunda estrofe. A rima segue esta ordem: abbaacac, isto é, rimam entre si os 1.º, 4.º, 5.º e 7.º, os 2.º, 3.º, e os 6.º e 8.º. No 4.º verso da 3.ª estrofe há um e a mais, que poderá talvez fundir-se com a vogal final da última palavra do verso anterior.


No verso final da quarta estrofe deixou de indicar-se, como era uso geral, a fusão do o de olho com o e imediato, isto é, olh' e, e os dois ee de vee-lo-edes contam por um só.

Note-se que entre agora e senhora não há rima imperfeita, pois o o do primeiro destes vocábulos soava então como hoje a mesma vocal do segundo, isto é, era fechado, consoante a sua origem.


*

Verso 4: Aqui o pronome quanto deve compreender a ideia de aspeto principalmente, que, afora as palavras, denunciava tristeza e pena.
Verso 6: de fiar. A antiga língua, como ainda o faz o francês atual, costumava antepor a preposição de ao infinitivo que servia de sujeito, como aqui o verbo fiar o é de non é nada. Em linguagem moderna diríamos: hoje em dia não vale a pena, ou então, vá lá agora uma mulher fiar-se em namorados. Na antiga língua este verbo, como outros de sentido idêntico, crer, etc., aparece construído com a prep. per, na de hoje, em vez desta, usa-se em.
Versos 8 e 15: mi... errado. A locução errar a alguem, segundo Moraes, equivale a «offender, faltar ao dever para com elle»; aqui, em especial, significa deixar, abandonar.
Verso 11: cantando. Este gerúndio, em vista da oração causal, ca entrava etc., parece-me dever referir-se antes a papagai do que a ela; sendo assim, temos aqui imitação da sintaxe francesa: cf. Epiphanio, obra citada, § 316, b. Obs. 1.ª.
Verso 14: que faria. O condicional em vez do futuro, como pedia o discurso directio de que faz parte, foi talvez motivado pelo pretérito disse (atração): per amores, i, é, para reaver o teu amor.
Verso 18: que... falava. Este que deve ter aqui o valor de copulativa; com o advérbio non, que se lhe segue, corresponde ao atual sem que ou apenas sem com o verbo falar no infinitivo.
Verso 28: ca... vida: cf. o modo de dizer: isto assim não é vida ou não é viver, referido, como aqui, a uma existência cheia de desgostos: cf. 1, 16.
Verso 31: ... á servida. A antiga variabilidade do particípio passado, sobre a qual pode ver-se a minha Crestomatia Arcaica, 2.ª edição, pág. cxvi, 3, mantém-se ainda nalguns casos, embora com certa diferença de sentido, como, por exemplo, em tinha a mesa posta, a par de tinha posto a mesa.
Versos 31 e 32: Sobre o anacoluto que se observa em o e lo cf. Epipfanio, Syntaxe, § 481.

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III


4 x (7) mais duas findas de três versos cada uma: versos agudos de sete sílabas, cuja ordem de rima é a seguinte: ababccb e ddb nas findas. Por lhe faltar o refrão, pertence, como a anterior, à classe das cantigas de maestria.

*

Verso 1: O sentido de ouvir, que aqui tem o verbo ver, ascende já às línguas clássicas e encontra-se, entre outros, em Fernão Lopes, Cron. D. Fernando, cap. cxiii, cxviii, etc.
Versos 4 e 5: que... vi, oração consecutiva da antecedente vi... pastor, em que, antes do adjetivo formosa, se omitiu o advérbio tam, omissão frequente de que a nossa língua e a latina nos oferecem bastos exemplos; a ordem direta seria: que nunca jamais vi parecer par (i. é, igual) ao seu; o pronome lhi pode ser pleonástico, se não interpretarmos ao parecer seu por um complemento de respeito ou relação: cf. o modo de dizer a meu ver, etc.
Verso 6: O pron. en refere-se ao que se acabou de dizer ou seja a formosura da pastora.
Verso 7: por vosso vou eu forma uma espécie de declaração de amor, na qual o que a faz se afirma servidor da dama cortejada. A mesma frase, apenas com a troca de ir por andar, repete-se mais abaixo. Sobre a função que junto do verbo desempenham as palavras por vosso cf. Epiphanio, Syntaxe, §§ 30a e 204c.
Verso 11: A perífrase foi trager tem aqui mais força do que o simples trouxe, pois «exprime estranheza de que o facto se tenha dado»: cf. o mesmo, § 322,b.
Verso 14: Note-se a fidelidade dela ao namorado que já tinha e também compunha versos em seu louvor. Cf. ainda os versos 26 a 28.
Versos 17 a 21: mais... serei, isto é, não obstante a vossa recusa em aceitardes o meu amor, eu continuarei a servir-vos, tão cativo me sinto de vós. O adv. parece ter o sentido de desde este momento.
Verso 21: cujo... serei. Estas palavras, das quais a primeira é nome predicativo da segunda, repetem a ideia já expressa nos versos 7, 17 e 18 e que uma vez mais reaparece no
Verso 31: por cujo s' el tem, onde o relativo cujo equivale a vosso.


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IV


3 x (5+2) e finda de 2 versos, octossílabos agudos, que rimam com os dois do refrão e estes entre si, sendo os restantes setessílabos graves, cuja rima está disposta deste modo: abbaa, como nos cinco primeiros da cantiga n.º II. No verso 4.º da 2.ª estrofe não se praticou a costumada elisão gráfica do o de amigo. Nos versos 5.os da 1.ª e 3.ª contam para a medida os dois ee de seede.

*

Verso 7: que s' ao meu podess' iguar é oração consecutiva da que a precede, onde, para nome predicativo do sujeito, tem de subentender-se tal.
Versos 8, 12 e 15: por verdade, certo: cf. Epipfanio, Syntaxe, § 204c. Este nome predicativo do complemento direto, que é a oração seguinte, equivale a outra, na qual esta desempenharia as funções de sujeito, isto é, (soube, sabede) que era (é) verdade, certo que non fui (=foi) etc.
Verso 10: que non avia recado. A primeira significação de recado parece ter sido a que ainda perdura, isto é, mensagem; a quem o desempenhava satisfatoriamente chamava-se (pessoa) de recado, expressão que na Eufrosina, ato I, cena 6.ª, se interpreta por sinónima de sesudo, e portanto ajuizado, prudente; daí non aver recado seria o mesmo que perder o juízo, não saber que fazer, donde passar os limites ou ser excessivo, que é o sentido que neste passo deve ter esta locução.
Versos 16 e 17: que o pesar... avia: em ordem direta dir-se-ia: que o vosso pesar d' aquel dia, isto é, que tivestes naquele dia, non avia par: note-se que o segundo que repete o primeiro, facto que ainda hoje se observa sobretudo na linguagem popular: cf. Epipfanio, Syntaxe, § 481, 3.


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V


3 x (4+2). Cantiga de refrão, como a antecedente, de versos agudos de oito sílabas, cuja rima é: abba+cc. No verso 3.º da 3.ª estrofe não se omitiu na grafia a vogal final de visse, que tem de fundir-se com a imediata. Contam no verso 2.º da 2.ª estrofe as vogais dobradas de veer e no 3.º da 3.ª elide-se o e de visse.


*

Verso 1: Ordem direta: amiga, á muito gran sazon.
Versos 6 e 8: Com o verbo tornar e outros nem sempre se usava a prep. a.
Verso 9: si (hoje assim) veja prazer era uma das várias frases com que se exprimia um desejo (cf. Epipfanio, Syntaxe, § 267, 2); em sentido quase igual diz-se hoje: assim Deus me ajude, me dê boa sorte etc.
Verso 14: sobre o emprego da prep. de junto a um infinito que desempenha as funções de sujeito, cf. II, 6.
Verso 15: em mi deve ser repetição de meus e portanto um pleonasmo reforçativo.


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VI


3 x (4+2) e finda de dois versos, os quais nesta, que rima com o refrão, neste e nos pares da cantiga são octossílabos agudos, nos ímpares, setessilábicos graves, vindo portanto todos a ser iguais quanto ao número de sílabas gramaticais; a ordem da rima e: abab e cc no refrão e finda. No verso 4.º da 1.ª estrofe contam para a medida os dois ee.


*

Verso 1: É escusado advertir que o que é advérbio e de quantidade.
Verso 4: O verbo faz tem aqui e nos versos 9 e 16, afora o sentido de presente, também o de futuro, como se depreende do refrão (2.º verso).
Versos 5, 11, 17: A prep. de, a meu ver, liga razon a andar; hoje, a par dela, usa-se para ou em.
Verso 6: pois... nembrar, i. é, depois que ou quando mais tarde se lembrar de mim e me não vir.
Verso 7: se Deus me valha: cf. V, 9.
Verso 14: nen vio el mi: a língua hodierna diria: nen el me vio ou pleonasticamente: ... me vio a mim, pois, como é sabido, esta forma tónica do pronome eu vem hoje sempre precedida de preposição.
Verso 16: i, advérbio de lugar, que aqui faz as vezes do pronome, equivalendo a nisso, i. é, andar triste. Notem-se as expressões sinónimas: faz gram razon (versos 4, 9-10), dereit' é (8), faz guisado (13) e faz gram dereito (16).
Verso 20: A partícula que deve ser aqui antes conjunção copulativa (cf. II, 18) do que pron. relativo com valor de causal.


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VII


3 x (4+1) e finda constituída por um verso apenas, que rima com o refrão, também formado por um único. Este e todos os ímpares da cantiga são setessílabos graves, enquanto os pares são octossílabos agudos, processo seguido, como se viu, na anterior, cuja rima também aqui se adotou, isto é, abab mais c.


No v. 2.º da 2.ª estrofe o -e de que funde-se com o a de alá.


*

Verso 8: A locução de grado creio dever juntar-se a querria.
Verso 12: sobre se cf. VI, 7.
Verso 16: O pron. lo refere-se ao sentido do v. 6.

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VIII


3 x (4+2) e finda de dois versos. Estes, como os do refrão, cuja rima seguem, e os demais da cantiga são setessilábicos graves; a disposição da rima é igual à seguida no n.º V.


*

Verso 1: Destes dois que o primeiro é adv., sinónimo que quam, e junta-se a muito, que concorda com o subs. tempo oculto, o segundo conj. temporal (cf. Epipfanio, Syntaxe, § 405). Em lugar de ver, que aliás está bem empregado, pois se refere às letras da carta, nós hoje diríamos ter, receber.
Verso 8: que non vejo etc.: com o verbo tardar usa-se hoje de preferência um infinito.
Verso 9: ouve jurado corresponde ao que os franceses chamam pretérito anterior e vale tanto como o simples jurou: cf. a minha Crestomatia Arcaica, 2.ª edição, pág. ci.
Versos 14 e 15: el seve... chorando... jurando: cf. 1, 2, 3. A conjugação perifrástica deve indicar aqui repetição do ato; por mi é expressão que julgo ter o sentido de: por amor de mim, por minha causa.
Verso 20: é morto. Como ainda o francês, a nossa antiga língua usava o verbo ser nos tempos compostos de certos verbos intransitivos; hoje dizemos morreu.


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IX


Igual à precedente.


*

Verso 5: per quanta posse avedes, i. é, por mais poder que tenhais ou por todo o poder.
Versos 6, 12, 18: Sobre o sentido deste presente cf. Epipfanio, Syntaxe, § 258 b) Obs. 4.ª.
Verso 8: ben... morte, isto é, não vos teria sido difícil evitar a sua morte, livrá-lo de morrer: sobre o mais que perf. por condicional cf. idem, § 256 b).
Versos 13 a 18: Ord. direta: amiga fremosa, jurou-mi que, con (= por causa do) mal que lhi vós fezestes, pero... quisestes, que (cf, IV, 16 e 17) já non o podedes guarir per etc. Sobre a omissão de tão antes de poderosa (verso 15) cf. III, 4 e 5.
Verso 20: A partícula per serve aqui, como noutros lugares, de reforçar o verbo, que assim fica equivalendo ao latim per ficere ou seja: fazer, realizar completamente: pode ver-se a minha Gram. Hist., pág. 360.


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X


3 x (4+2) e finda de dois versos, que rimam com o refrão. Com exceção dos 2.º e 3.º da estrofe 3.ª, que terminam por palavras graves, todos os mais são decassílabos agudos. A rima como em V. No verso 4.º da 2.ª estrofe a vogal nasal de poren funde-se com a oral seguinte, processo que ascende já à métrica dos Romanos, e no 1.º da finda a copulativa e e o a imediato constituem uma sílaba só.


*


Verso 1: O meu amigo... non quer' eu: sobre esta construção cf. Epipfanio, Syntaxe, § 481.
Verso 3: e quero eu... seu. O sentido destes versos deve ser: estou resolvida a pôr em prática este meu propósito, por issso que sou assim ousada no que lhe diz respeito.
Verso 8: O pronome-advérbio ende refere-se ao sentido de se lh' eu amor mostrasse (v. precedente).
Verso 9: por en ou pela satisfação que ele mostraria.
Verso 10: qual bem me quer. Como é sabido, era infringir os preceitos do amor cortesão o dar a entender qual a pessoa a que se queria bem.
Verso 15: Ordem direta, averia tanta coita forte en, ou, por outras palavras: tam grande desgosto ele teria com isso (o mostrar-lhe desamor do v. 13).
Verso 16: mais... o melhor, isto é, para eu proceder da maneira mais sensata, errar end' o melhor literalmente deve significar faltar ou deixar de fazer o que for melhor disso, no que respeita a desamor.
Verso 19: e assi se passar. A partícula se deve servir de apassivar o infinitivo, passar, que deste modo equivalerá a ir-se passando.


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XI


2 x (4+2): Versos de oito sílabas, todos agudos, tanto os da cantiga como os do refrão, com exceção dos 1.º e 4.º da 2.ª estrofe, que são setessilábicos graves. Rima igual à do n.º V.


No 2.º verso da 1.ª estrofe o e de que funde-se com o a seguinte, o que aliás não acontece no mesmo da 2.ª, onde viir se conta por duas sílabas.


*


Verso 1: Na locução aver grado a pessoa a quem se dirige o agradecimento ora está em dativo (complemento indireto: cf. n.º CXIII, 16), ora em nominativo (sujeito), como aqui.
Verso 2: A ord. direta creio ser: d[e] que o meu amigo ven a mi: Em vez de que tem o v. 8 por que.Já em latim os verbos de significação idêntica a aver grado, como gratias ou grates agere, regiam uma oração introduzida por quod.
Versos 5, 6: que... prazer. O sentido destes versos afigura-se-me ser: o dia em que o vir será para mim o mais alegre de toda a minha vida; em ordem direta dir-se-ia: que aquel dia posso veer (= veerei) prazer maior que nunca vi.
Verso 7: A partícula pronominal ende refere-se à oração seguinte, que antecipa: cf. Epipfanio, Syntaxe, § 85, 2. Fenómeno idêntico ocorre nas línguas clássicas; cf. exemplo em Haenny, Gram. latine, § 159 e versos 406 e 407 do V canto da Ilíada e 902 e 903 da Hecuba.
Obs. Deve estar incompleta esta cantiga.


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XII


Igual ao n.º X, com a única diferença que aqui são agudos todos os versos.


*


Versos 1 e 2: Ord. dir.: vós, que vos chamades meu amigo en vossos etc. Sobre a função desempenhada pela palavra amigo cf. Epipfanio, Syntaxe, § 29, 5 e, a respeito do pron. possessivo meu, § 78.
Verso 5: O adv. bem parece ter aqui o sentido de tanto, dando o valor de superlativo ao pronome quanto, que se lhe segue; como se sabe, já em latim ele desempenhava essa função e a linguagem popular assim o emprega frequentemente.
Verso 8: Ord. dir.: por o mentiral fazer etc.
Verso 9: Sinónima de nen bem nem mal é a expressão: nem muito, nem pouco.
Verso 10: O pron. aquesto refere-se ao sentido dos versos precedentes.
Verso 13: De modo semelhante diz o povo, falando de uma coisa a que não liga importância: não me tira, nem me põe, ou não me aquenta, nem arrefenta. Sobre a prep. de antes do infinitivo no verso a seguir cf. II, 6.
Verso 15: Em vez de ao o sentido pedia o; a preposição resultou de se fazer do que complemento indireto (atração); a ordem direta seria: o (= aquele) a que eu nunca fiz senão mal.
Verso 19: O sentido deve ser: continuai a proceder para comigo como até agora.


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XIII


3 x (4+2): Versos graves de nove sílabas, exceto o refrão e 1º e 4º da 3ª estrofe, que são agudos, iguais portanto todos quanto ao número de sílabas gramaticais. Rima a do nº v. No verso 1º da 1ª estrofe não se elidiu graficamente o -a de filha, como pede a medida; no 2º da 3ª, antes de que, têm os códices a prep. de, que esta repele e o sentido escusa; no imediato contam-se os dois aa de guaanhades.

*

Versos 2: O adjetivo aficado vale aqui por um advérbio: rogasse... Já o latim, além do presente do conjuntivo, empregava também o imperfeito em casos idênticos: cf. L. Haenny, Nouvelle Grammaire latine, § 191.
Verso 3
: Ord. dir.: que non vos pesasse de (ele) amar-vos.

Versos 4
e 8: O pron. en refere-se ao pedido do namorado, expresso no v. 1º.

Verso 6
: Ord. dir.: mais non vos mando, filha, fazer mais i (ou neste sentido), isto é, só vos peço que correspondais ao seu amor por vós. Note-se que o 1º mais é conj. adversativa e o 2º advérbio.

Verso 7
: Sobre a linguagem perifrástica cf. 1, 2 e 3.

Verso 8
: Ord. dir.: e rogava-me esto etc.

Verso 10
: O pr. en refere-se ao sentido da oração precedente: tam etc.
Versos 13 e 14: Ord. dir.: Ca eu non vejo que vós perçades ren i (isto é), de el amar-vos de coraçon.
Verso 15: sen i mais aver, isto é, sob condição ou contanto que nada mais haja entre vós.
Verso 16: O pron. esto resume o que ficou dito nos precedentes versos. Para reger a oração que vos non pês, etc. do verso seguinte, tem de subentender-se um verbo, como rogo ou castigo, das estrofes anteriores.

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XIV


Igual ao nº VI, apenas com a diferença que os 2ºs e 3ºs versos das estrofes são agudos, e a rima é semelhante à do nº V. No verso 3º da 3ª estrofe funde-se com a preposição a a partícula que, que a precede.

*

Versos 1 e 4: Notem-se as duas aceções, substantivo e verbo, do vocábulo pesar, originariamente um infinitivo: cf. igualmente jantar, poder, etc.
Versos 5 e 6: Ord. dir.: que el queria ante morrer ca fazer-mi un sol pesar.
Verso 7: Sobre pesasse cf. Epiphanio, Syntaxe, § 271 a, Obs. e a minha Crest. arc. pág. CXX, § 174.
Verso 9: Creio que o sentido deste verso será: que não seria nada do que foi, isto é, que ele não faria o que fez.
Verso 10: O pr. en seria na língua atual substituído por o, referido ao que ficou dito no verso 7.
Versos 19 e 20: Com sentido idêntico diríamos hoje: Pois ele sabe que a sua morte ou a sua vida estão nas minhas mãos. Sobre o de cf. II, 6 e, a respeito da partícula expletiva xe, a minha Gram. Hist., pág. 241.

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XV


Igual ao nº XII.

*

Versos 2 e 7: O pronome vosco ou convosco parece-me dever interpretar-se aqui por junto de vós e portanto vosco buscar mal a voss' amigo o mesmo será que: intrigá-lo, indispô-lo convosco.
Versos 6, 12, 18: Sobre a função das palavras por amigo cf. III, 7.
Verso 9: polo seu, subentenda-se amor, isto é, em proveito seu: cf. Epiphanio, Syntaxe Historica, §81, 3.
Verso 10: O subs. preito é explicado nos versos imediatos: cf. XI, 7.
Versos 14 e 15: Ord. dir.: de fazer-lhi aver o vosso desamor, isto é, de fazer que deixeis de amá-lo Sobre vosso cf. meu em XII, 1 e 2. O adv. pronominal ende refere-se ao que se acabou de dizer.
Versos 19 e 20 querem significar que a rival faz quanto pode para malquistá-lo com a outra, perdendo a sua afeição.

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XVI


8 x (2+1): Versos graves de seis sílabas e refrão de duas; é cantiga de género popular, das chamadas paralelísticas. Nos códices falta a sexta estrofe, que W. Stork completou nos seus Hundert altportugiesische Liëder d' este modo, seguido também por H. Lang no seu Das Liederbuch des Königs Denis von Portugal:


Rogu' eu a Deus de grado
por aquel meu amado

em harmonia com a sua conjetura de que aquel namorado da estrofe 8ª está em vez de aquel meu amado; realmente é este último vocábulo o paralelo de amigo, como aliás mostram as estrofes 1ª e 2ª d' esta mesma cantiga. Embora consoante, a rima alterna em i, nas estrofes ímpares, e a, nas pares.


*

Versos 1 e 4 : Da locução completa em bom dia (e também na oposta em mal dia) caiu a preposição, tomando ela então por vezes o sentido de advérbio, isto é, felizmente, como aqui, e até, quando substantivo composto, o de contentamento, felicidade ( desgraça, no caso contrário) cf. Glossário. Ambas estas expressões e ainda grave dia, I, 6, ou forte ponto, que lhe são sinónimas, resultaram, como se sabe, da antiquíssima e ainda dominante crença de que há horas, momentos, uns bons, outros maus. Para amigo e amado tem de subentender-se o possessivo meu.
Versos 3, 6, etc.: O estribilho louçãa deve ser um aposto do sujeito.
Versos 5, 7, etc.: Para a namorada o receber notícias do seu amigo é como se o visse a ele próprio.
Versos 11, 13, etc.: O complemento direto do verbo rogar vem mais adiante nos versos 20 e 23.
Verso 23: Sobre fosse... chegado, cf. XIII, 2.

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XVII


6 x (2+1). Cantiga do mesmo género da anterior, de versos octossilábicos graves, mas agudos e de 7 sílabas no refrão. No verso 1º da 5ª estrofe têm os Códices E (por), que a medida e o paralelismo repelem.


No imediato, bem como no 2º da estrofe seguinte, o i de si e o u de mentiu têm de fundir-se respetivamente com é e a, que vêm após. Rima igual à da precedente, com exceção da 1ª estrofe, em que é toante.

*

Versos 13, 14, 16 e 17 : Em vez de por, devia esperar-se de, se é que, como se me afigura, as orações introduzidas por aquela preposição, estão dependentes de pesa-mi, obstou porém a isso a repetição exigida por esta espécie de construção (paralelística), note-se todavia que a língua latina empregava também a conjunção quod depois do verbo paenitet, cf. XI, 8.

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XVIII


6 x (2+1). Cantiga paralelística como a antecedente, de versos graves de treze sílabas, ou antes compostos de dois hemistíquios graves de seis sílabas, e refrão igualmente hexassilábico (nota do Farol das Letras: sexsilábico, no original) e grave. Rima idêntica à da anterior, mas toda toante.

*

Versos 3, 6, etc.: O estribilho alva, que os Cancioneiros da Vaticana e Brancutti apresentam, talvez esteja por a alva, espécie de interjeição referente ao romper do dia; as restantes palavras e vai liero não sei interpretar, afigurando-se-me talvez lapso do copista; todavia Diez explica liero por ligeiro; mesmo tomando este adjetivo por advérbio, o sentido continua obscuro.


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XIX


8 x (2+1). Popular como a anterior, compõe-se esta cantiga de versos graves de dez sílabas na primeira parte, isto é, nas quatro primeiras estrofes, e onze na segunda ou seja nas restantes, a manter-se o pronome me, que ambos os códices têm no 1º verso da 6ª estrofe, mas W. Stork e Lang rejeitam. Sendo assim, contam-se os dois ee de seerá (v. 2º, 7ª estrofe).


Talvez com mais propriedade chamaremos aos versos que nela entram, com exceção do refrão, de arte-maior, isto é,  formados por dois hemistíquios, um de cinco sílabas, grave ou agudo, outro, sempre grave, de quatro, cinco e seis, vindo portanto os acentos a recaírem sobre a 5ª e 10ª ou 11ª. O refrão é pentassílabo agudo e a rima igual à do nº XVIII. A estrofe 5ª, que falta nos apógrafos, é da autoria de Stork: cf. obra citada. Rima como a do nº XVII, isto é, consoante só nas estrofes 3ª e 4ª e toante nas demais.

*

Versos 1 e 4: Aqui tem de subentender-se dizede-me, para reger a oração se sabedes, etc.
Versos 3, 6, etc.: Hoje usa-se antepor a Deus o possessivo meu.
Embora na 2ª parte da cantiga sejam as flores quem responde às perguntas feitas na 1ª, continua o mesmo refrão, visto ser cantado certamente pelo coro.


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XX


6 x (2+3). De feição igual às anteriores, é esta cantiga constituída por versos graves de seis sílabas com um grave de quatro entre eles; compõe-se o refrão deste e dos dois últimos da estrofe, também graves, um de três, outro de cinco. Rima a mesma que a do nº XVIII.

 *

Versos 2, 7, 12, 17, 22 e 27: Nestes passos afigura-se-me, em vista do que se diz nos versos 23 e 28, que a palavra alva é adjetivo e designa outra qualidade mais da protagonista, além das de velida e louçãa (v. 1 e 6); no 2º verso, porém, do estribilho é possível que a sua significação seja a mesma que ficou apontada atrás (versos 3, 6, etc, do nº XVIII), sem que repugne a primeira em vocativo.


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XXI


6 x (2+2). Popular e de medida e rima idênticas à anterior, como ela tem igualmente intercalado um dos dois versos do refrão, que aqui é trissílabo agudo, sendo de seis e também agudo o segundo. A última estrofe, que falta nos Códices, é complemento de Storck: cf. nº XIX.

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Versos 2, 6, etc.: Hoje dir-se-ia: valha-vos Deus.
Versos 3, 7, etc.: Em consequência da copulativa seguinte, entendo que se deve tomar por imperativo a forma verbal vede; quanto a la, será uma persistência do antigo artigo, de que há exemplos, como pode ver-se na minha Gram. Historica, pág. 253.

 
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XXII


Igual ao nº XII, com a diferença apenas de não ter finda.


No verso 2º da 1ª estrofe o e de ele funde-se com o seguinte.

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Versos 1 a 3: Ord. dir.: par Deus, amiga, ele, o voss' amigo, põe seus olhos en vós tan de coraçon e tan ben (i. é com tanta ternura e amor). Note-se a repetição do sujeito.
Versos 5, 11, 17: A locução aver poder de vale tanto como só poder, sendo por isso neste caso pleonástica.
Versos 6, 12, 18: Hoje usar-se-ia de preferência a prep. em ou com.
Verso 10: Ord. dir.: pode entender mui ben d' el.
Versos 13, 14: razon... encubra, isto é, ele procura maneira ou meio de disfarçar (entenda-se: o prazer que lhe causa a vossa presença).

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XXIII


Igual à anterior.

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Verso 2: A intimativa por Deus supõe um dizede-me, que se omitiu.
Verso 6: A língua antiga, como ainda a popular, usava por vezes, em complemento direto, as formas tónicas dos pronomes pessoais em vez das átonas: cf. VI, 14.
Versos 7 e 8: É pleonástica a expressão atrever-se de ousar, visto serem sinónimos os dois verbos; hoje prefere-se a prep. a. A ord. direta seria: catar dos seus olhos.
Verso 9: Em vez de meus podia empregar-se o respetivo pronome pessoal átono, i. é, me; deste modo dir-se-ia em ord. direta: se me vir alçar os olhos um pouco.
Versos 1 e 16: O o do primeiro refere-se a ousar catar, etc., e o do segundo a veer e chamar(-me sua) senhor.
Verso 15: Junte-se a expressão de (cf. II, 6) m' ousar veer a terrá (do verso 13), de que é complemento direto. Sobre a função de por razon (no mesmo verso 13) cf. Epiphanio, Syntaxe, § 31, a.




XXIV


3 X (4+2): Versos endecassílabos agudos, tanto os da cantiga como os do refrão, e rima idêntica à dos nºs VI e VII.

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Verso 1: A partícula que é aqui expletiva ou de realce, tendo-se omitido foi em seguida a dia: cf. Epiphanio, Syntaxe, § 428 d e e, e Lang, Canc. de D. Denis, v. 1256, onde apresenta bastantes exemplos de tal emprego.
Versos 3, 10, 16: O advérbio i é explicado por en aqueste feito (verso 4), i. é, as lamentações feitas nos versos 1 e 2, 7 e 8, 13 e 14.
Versos 6, 12, 18: Para complemento de farei, deve subentender-se mesura, do verso precedente; o sentido é pouco mais ou menos este: procederei convosco com a maior bondade que puder.
Versos 7 e 8: A ord. dir. parece-me ser esta: U (i. é, quando) eu vos oí falar (foi) en tal ponto que depois non pudi aver ben.
Versos 9 e 10: Do verbo preguntar tira-se um gerúndio, como pedindo ou outro de significação idêntica que com ele rege a oração seguinte; facto igual dava-se já em latim, como se pode ver em Madvig, Gram. Lat., § 403; note-se, porém, que o modo de dizer é redundante; em vez de quero-vos... digades, bastaria dizede, como aliás vem abaixo, v. 15.
Verso 16: O conjuntivo faça, como já acontecia em latim, tem aqui a ideia de obrigação, estando por deva fazer.




XXV


4 X (7): Cantiga de maestria, cujos versos são decassílabos: graves os 1º, 4º e 7º e agudos: os 2º, 3º, 5º e 6º de cada estrofe; a rima está assim disposta: abbacca.

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Versos 1 e 2: A oração como... viver completa o sentido de faço-me maravilhada.
Versos 6 e 7: De aposto a maravilha serve o verso 6, que por seu lado exerce também as funções de sujeito de é cousa mui desguisada (v. 7).
Verso 12: Antes da prep. de tem de subentender-se o (isto é, amada) sodes. Sobre o agente da passiva cf. Epiphanio, Syntaxe, § 170, d.
Verso 13: O adv. i refere-se ao sentido da oração se el tarda.
Verso 14: se... culpada ou, se não é assim como vos digo, a culpa disso (i. é, de fazer tal afirmativa) sou eu.
Verso 20: Ordem direta tomo i (= nisto, ou na sua ausência prolongada) gran sospeita que é morto.
Verso 25: Sobre a  prep. de cf. nº II, 6.
Verso 28: O pron. advérbio ende resume em si o sentido das palavras precedentes: nunca oí falar d' outr' ome tan leal.

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XXVI


  3X (3+3): Cantiga de refrão, constituída por decassílabos, como a precedente, mas todos agudos e cuja rima segue esta ordem: aaa no corpo da cantiga, bab no refrão.

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Verso 2: par, i. é, outro que lhe fosse igual em coita ou tão apaixonado.
Verso 3: este que, como o anterior, é consecutivo.
Verso 17: senhor do meu mal, i. é, a causadora da minha paixão.

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XXVII


3 X (7) e finda de três versos, que rimam com os três últimos da estrofe precedente; são todos octossílabos agudos e a rima está disposta assim: abbacca. É cantiga de mestria.


No verso 4º da 2ª estrofe, parece haver uma sílaba a mais, que poderia ser se, dispensável para o sentido, exceto se se fundir o o com o v de vosso.


No verso 6º da 3ª contrai-se o a do ca com o seguinte.

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Versos 3 e 4: seria meu mal e vosso, isto é, eu não irme.
Versos 4 e 5: Ord. dir.: por ende conven-mi a partir.
Verso 6: Sobre o de cf. II, 6. Note-se que o nome predicativo do verbo será é constituído por que gram coita, tendo, para complemento direto de endurar, de subentender-se a vossa partida, que se deduz da oração pois, etc.
Verso 9: Para completar bem há de tirar-se será do verso anterior; a locução seer bem corresponde à latina bene esse e à atual estar bem; note-se, porém, que, a par do advérbio, se usa igualmente o respetivo adjetivo.
Versos 11, 14, 19 e 20: Se a genuína lição é esta, afigura-se-me que os possessivos vosso e meu concordarão talvez com o substantivo oculto destino, considerado como propriedade da pessoa, por andar ligado a ela, e assim o verso 11 quererá dizer que o da mulher amada não sofrerá alteração para mal, antes correrá mui bem, ao que esta replica que, visto o dele assim determinar que parta (verso 14), ela morrerá, a que o amigo responde querer antes passar ou sofrer o seu, que o força a afastar-se dela, de cuja ausência lhe virá a morte, do que pôr em risco o da amiga (versos 19 e 20).
Verso 17: Ordem direta tomo i (= nisto, ou na sua ausência prolongada) gran sospeita que é morto.
Verso 25: Sobre a  prep. de cf. nº II, 6.
Verso 28: O pron. advérbio ende resume em si o sentido das palavras precedentes: nunca oí falar d' outr' ome tan leal.

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XXVIII


3 X (4+2). Igual ao nº XI, com a diferença apenas que os graves figuram nos primeiros quatro versos da 1ª estrofe.


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Verso 6: O regular seria queira (cf. Epifhanio, Syntaxe Historica, § 271 a, I); eu explico o presente do indicativo pela exigência da rima e talvez também por se considerar o facto como real.
Verso 8: Sobre o imperfeito do conjuntivo cf. Epiphanio, Syntaxe, § 278.
Verso 9: A conjugação perifrástica, constituída pelo verbo ir e outro no infinitivo, vale o mesmo que este só, ou exprimirá nalguns casos «estranheza de que um facto se dê», como diz Epiphanio, na sua Syntaxe, § 322 b.: cf. aqui dizedes no verso 3.
Verso 10: Entenda-se o en por: a esse respeito, quanto ao que dizedes.
Verso 14: , etc., fórmula de juramento que reforça a afirmativa e à qual se omitiu pela: cf. ainda hoje pela minha honra, etc.
Verso 15: Sobre avedes em vez de ajades cf. verso 6 (a segunda explicação).

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XXIX


3 X (4+2) e finda de dois versos, que rimam com o refrão, todos hexassilábicos graves; rima idêntica à do nº VI.


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Versos 1 a 3: Ord. dir.: meu amigo, eu non posso viver con vossa soidade, modo de dizer equivalente a este: morro de saudades vossas ou por vós. Sobre o pron. vossa cf. XII, I, meu.
Versos 7 e 8: Idem: Non posso viver u vos non vejo. A oração seguinte ben o creede é parentética.

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XXX


3 X (4+2) e finda de dois versos, que rimam com o refrão, e são eneassílabos graves, como os deste e ainda os 1º e 4º de cada estrofe, sendo os restantes, isto é, os 2º e 3º decassílabos agudos. Rima igual à do nº V.


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Versos 2 a 3: Ord. dir.: ...poder de viver tam longo tempo sen mi.
Versos 6, 12 e 18: O adv. muito junta-se a creer. Ao contrário da língua de hoje, que em tais casos emprega em, a antiga usava também per.
Verso 9: Sobre meu cf. XII, 1.
Verso 15: queriades... tornar vale tanto como tornarieis.
Verso 20: por quanto... comigo ou seja pelo vosso procedimento para comigo.

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*Nunes, José Joaquim, CANTIGAS D' AMIGO dos Trovadores Galego-Portugueses, Edição Crítica Acompanhada de Introdução, Comentário, Variantes e Glossário, Vol. III, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1928.

Nota: Para melhor compreensão, sobretudo dos consulentes estrangeiros, optou-se pela grafia atual, em conformidade com as normas do novo acordo ortográfico.











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