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Miguel Torga


S. Leonardo de Galafura


Miguel Torga
(1907-1995)






À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,








Capitão no seu posto
De comando,


S. Leonardo vai  sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direção ao cais divino.



Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.





Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.


É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!

 

S. Leonardo de Galafura, o deslumbramento do Douro nas raízes profundas da poesia, qual torga florida na primavera dos socalcos.

Manuel Maria


Curiosidade:

Neste painel de azulejos, os dois primeiros versos da segunda estrofe não estão de acordo com o original, verificando-se uma inversão dos termos:

Lá não terá socalcos

Nem vinhedos




© 2001- - Manuel Maria, associado da SPA.